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Por Washington Quaquá

Há uma oposição estabelecida entre duas atitudes tidas como opostas. Mas a realidade não é um monólito como um paralelepípedo ou um bloco de mármore. A vida e a política são muito mais complexas. Mas a simplificação quase geológica estabelece essa dicotomia petrificada:

A que defende que o ex-presidente Lula deve aceitar alianças com o centro político, que na verdade é a direita que governou conosco mas optou por golpear a Dilma e o a democracia, mas que agora enxerga no Lula a chance de salvar o mínimo de rito democrático e tirar o país do atoleiro econômico, social e institucional que ameaça destruir a todos.

E a outra que defende que Lula 3.0 não pode ser igual aos dois primeiros, e que deve aprender com o golpe e com a trairagem do centro político e das elites econômicas, fazendo desta vez um governo mais pela esquerda e que realize as reformas que deixamos de realizar. Neste caso seria inadmissível alianças com golpistas que não querem as reformas estruturais e não são confiáveis.

A síntese dos contrários é sempre o caminho mais natural e correto. É a velha dialética que o Velho nos ensinou e que muitos que o seguem religiosamente deixaram de praticar.

Então, os dois lados tem seus erros, mas também tem suas verdades e razões. É verdade que não se pode mais cometer os erros cometidos nos nossos 12 anos de governo. Mas também o é que sem a ampliação das alianças políticas, econômicas e sociais que fizemos não teríamos realizado um conjunto potente de políticas públicas que mudaram a vida do povo. Como também é verdade que, ou atraímos novamente o centro político e parte destas elites brasileiras, ou teremos muito mais problemas para registrar a candidatura Lula, vencer as eleições e governar.

Então não há incompatibilidade entre fazer o mesmo, mas fazendo diferente. Parece contraditório e até antitético, mas não é.

Fazer o mesmo é necessário. Porque em 2002 foi acertado romper com uma política estreita de alianças que só previa alianças à esquerda e nos levou a sucessivas derrotas presidenciais. Sem o empresário José de Alencar de vice e sem a ampliação de alianças para setores mais à direita do que nosso bloco tradicional, não teríamos vencido. E sem a vitória eleitoral e as realizações de nossos governos, que mudaram a vida do povo, nem nós e nem Lula seríamos o que somos hoje. Muito menos o povo brasileiro.

Mas também é certo que temos que fazer diferente. Porque superestimamos a solidez e o caráter das alianças pela direita. Acreditamos demais na capacidade da burguesia brasileira de aderir a um projeto autônomo de nação. Deveríamos ter tomando mais medidas de auto-fortalecimento e confiado menos na solidez das alianças institucionais e nos pactos de classe.

Devíamos ter organizado o povo em torno de uma narrativa forte de construção da democracia popular e dos direitos. Preparar o povo para sustentar as políticas populares. Organizar o partido. Organizar a frente popular. Apoiar o florescimento dos movimentos populares. Enfim, fortalecer nossas fortalezas para que tivéssemos 10, 15, 20 milhões de pessoas organizadas e prontas para ir as ruas defender a democracia e o governo popular.

Não fizemos e isso foi uma das causas principais de nossa derrota. Isso explica porque o golpe nos venceu com tamanha facilidade. Estávamos organizativamente desarmados, sem narrativa cultural potente, enfim, despolitizados, descafeinados e pasteurizados.

Devemos corrigir os erros dessa vez? Claro! Mas também seria burrice não repetir os acertos!

Então o que temos que fazer?

Temos primeiro que fortalecer nossas fortalezas e construir nosso programa e nossa narrativa de país, para termos o norte da disputa cultural. Fortalecer o PT, a Frente Brasil Popular e os movimentos populares. Para isso, o PT tem que utilizar toda a sua capilaridade e força social para ser o dirigente político deste bloco social e político popular e de esquerda. Dirigente com hegemonia e sem hegemonismo. Construindo a narrativa e o pensamento hegemonicamente. Trazendo e cultivando aliados. Abrindo espaço para o crescimento político e institucional dos aliados e crescendo junto. Criando estruturas militantes próprias e coletivas da FBP. Núcleos de base, organismos municipais, escolas de formação, redes de jornais locais e estaduais, redes de comunicação, etc.

Mas também temos que garantir o registro da candidatura Lula, com mobilização popular sim, mas não só com ela, mas também com alianças institucionais e políticas para além da esquerda. O Estado Policial e a sua ditadura do judiciário criou uma zona ampla de oposição democrática ou por interesse e este novo método de domínio neoliberal e mundial. Utiliza-se da cooptação do judiciário dos países para fazer a guerra de desmoralização do adversário e de destruição da política para que o império se estabeleça através do bonapartismo judiciário. O inimigo do estado policial e da ditadura neoliberal do judiciário é nosso aliado.

Portanto, no período de agora, de resistência aos processos contra Lula, no período de registro da candidatura e durante a campanha devemos ampliar alianças. Rachar o centro (a direita num linguajar mais claro e direto) e explorar suas contradições e todos os Estados. Formar em cada estado um bloco democrático em defesa do Lula e da democracia. Isso pode significar um palanque só em 2018 onde for possível e necessito, mas também mais de um palanque e acordos para o segundo turno onde essa condição se der.

Mas o mais importante é sairmos de uma posição estreita, sectária e que nos levará a derrota, de dividir o mundo político, economico e social entre “golpistas” e “golpeados”.

Trata-se agora de fazer os dois movimentos que não são incompatíveis, mas antes disso, são duplamente necessários: fortalecer a esquerda de um lado, construindo além de seu programa e de sua narrativa, os seus organismos de militância e ação de massa, mas ao mesmo tempo ampliar alianças para além da esquerda para impor uma derrota ao neoliberalismo internacional instalado no Brasil pelos seus prepostos na política e no judiciário.

É hora de luta!
É hora de lucidez!
É hora de ação!

Washington Quaquá foi prefeito de Maricá por 8 anos e é presidente do PT do Estado do RJ.

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