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Bruna Rodrigues 

Kawan Lopes é jovem negro, LGBT, periférico e artista. Encontrou na cultura, na arte e na educação a inspiração para lutar por uma sociedade mais justa em que, especialmente, a juventude negra e periférica possa viver plenamente e com dignidade. Candidato a deputado estadual, ele quer defender essas bandeiras, que fazem parte de toda sua vida, na Alerj e ajudar a construir um estado melhor e mais humano.

PT-RJ: Conte um pouquinho da sua história, como você chegou no Partido dos Trabalhadores. Qual a sua trajetória como militante e como você chegou à candidatura?

Kawan: Então, eu comecei a minha trajetória pelo movimento estudantil, em 2016, durante as ocupações. Foi aí que eu comecei a entender diversas situações referentes à educação pública de qualidade. Nesse contexto, eu acabei promovendo uma emancipação popular, por que de fato é isso: a ocupação nas escolas promoveu à juventude esse lugar também de entendimento e pertencimento político, a partir dos livros, a partir de uma condição pedagógica. Eu chego no Partido dos Trabalhadores em 2021, de maneira muito orgânica, pois senti a necessidade de me organizar partidariamente. Eu já tinha encerrado um ciclo, já tinha. Passei por um processo eleitoral em 2020, como o mais jovem também aqui no município, como candidato a vereador. E nesse contexto ocupamos a suplência como muito esforço, com muito gás, mas também entendemos que seria importante conseguirmos nos identificar partidariamente. E aí eu me filio com Benedita da Silva, uma assinatura da qual tenho muito orgulho. Porque Bené exemplifica, ainda viva, a condição dos corpos negros nos espaços da decisão de poder.

PT-RJ: Você falou um pouco da sua trajetória, agora queria que falasse das bandeiras que vai defender ao longo da campanha.

Kawan: Então, enquanto candidatura jovem, estou nesse desafio que é na verdade um desafio coletivo. Encabeçar essa campanha como cabeça de chapa pra mim é um lugar muito desafiador. Mas para além disso, reivindicamos a narrativa de quem já passa fome, em quem não tem, por exemplo, uma casa, ou quem ainda tem uma gotinha de esperança, que sonha em mudar de vida. E eu acho que o governo Lula trazia muito isso. Então as nossas pautas são essas: oportunidade, alternância de poder com a juventude, com a favela, com a negritude, com os LGTBs, com a mulheres negras. Por que de fato eu sou fruto das mulheres né. Sabemos que quando um jovem negro nasce na favela e ele permanece vivo até os 23 anos é porque fugiu das estatísticas. Por que os nossos corpos têm alvo, e quando conseguimos subverter essa lógica é importante também a colocarmos isso em projeto político. Reivindicar a permanência da juventude negra marcada para viver.

PT-RJ: Fale um pouco do grande desafio de ser um jovem negro na política. Quais as dificuldades e o que você, como jovem negro, candidato, faz para subverter essas dificuldades. Furar a bolha mesmo.

Kawan: Então, se eu tivesse a oportunidade em 2017 de encontrar com Marielle seria incrível. Não estou defendendo só da boca pra fora, eu acho que a Marielle sempre falava que o lugar da representatividade é fundamental. Mas, para além disso, é importante pensarmos onde a juventude vai estar, em especial a juventude negra, daqui a alguns anos. Precisa estar viva, marcada pra viver, porque sabemos que nesse lugar da necropolítica, no que está estabelecido pra gente enquanto governo, que é necro, que é fascismo, que tem compromisso com os porões da ditadura, que dita nossos corpos como nada né, como descartáveis. Quando abrimos esse lugar, esses corpos que são ditos cotidianamente por uma sociedade machista, imperialista, burguesa, branca, majoritariamente branca, que nos subjugam cotidianamente, quando a gente rompe essa quarta parede chegamos nesses corpos descartáveis, porque eu um dia fui um corpo descartável, na favela do Cesarão. Sim, minha mãe precisou me tirar daquele lugar para garantir um pouco de educação de qualidade para mim e para os meus irmãos. Então, quando olhamos para esses corpos sabemos que tem sonho, sabemos que tem história, tem narrativa, tem projeto. E é um projeto muito do que o Lula fala. Em 2006, quando ele toma o governo ee mostra para nós que o pobre só é prioridade quando os nossos governantes colocam esses corpos dentro do orçamento. E quando colocamos esses corpos dentro do orçamento conseguimos pensar que a alternância de poder também é preta, é favelada, é indígena, é diversa, é de diversas cores, é das mulheres. Eu com 23 anos assumo essa responsabilidade, até porque o meu corpo carrega diversas marcas e diversas transgressões que subjugam também a potência estar ocupando esses espaços. A Assembleia Legislativa nunca teve uma representação definitivamente LGBT, definitivamente que paute a juventude no centro do debate. Então esse ano de 2022 é um ano de plebiscito, em que vamos pautar se a juventude vai poder trazer a primavera novamente ou se vamos estar ainda de braços cruzados esperando que a morte, que essa política necro continue pairando e matando os nossos e as nossas.

PT-RJ: agora vamos fazer o ping-pong.
PT-RJ: A primeira palavra é educação pública.
Kawan: emancipação popular
PT-RJ: Renda
Kawan: Família.
PT-RJ: Desemprego
Kawan: Desemprego… eu não tenho uma palavra para dizer sobre desemprego, porque eu já estive nesse lugar, mas como sou poeta, então, desemprego, desespero.
PT-RJ: Genocídio
Kawan: Basta.
PT-RJ: Bolsonaro
Kawan: Fora
PT-RJ: Lula
Kawan: Meu presidente
PT-RJ: Sonho
Kawan: Esperançar é não ter medo.
PT-RJ: Amor
Kawan: Minha mãe

 

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