Camila Marins anuncia saída do PSOL e filiação no PT.

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Carta de desfiliação do PSOL

NÓS, MULHERES NEGRAS, VAMOS REINVENTAR A DEMOCRACIA

No Brasil, somos muitos povos, como disse a cantora Elza Soares: “mil nações moldaram minha cara. Minha voz uso pra dizer o que se cala. Meu país é o meu lugar de fala”. É desse lugar de fala e da memória coletiva de tantas lutas de mulheres negras, feministas, lésbicas, trabalhadoras do mundo e insistentes na vida que anuncio a minha saída do PSOL. Apenas uma mudança de rota para chegar ao caminho final: o socialismo.

Neste ano de 2022, comemoramos 90 anos que o voto feminino se tornou um direito no Brasil. Antes que pudéssemos votar, mulheres negras e de origem indígena, como Gilka Machado e Leolinda D’altro, construíram o Partido Republicano Feminino, afirmando que uma República Democrática não se faz sem a presença de mulheres nos espaços de decisões políticas. Antonieta de Barros, jornalista e professora, que foi a primeira mulher negra eleita no Brasil, assumiu um mandato popular em 1934 e sofreu racismo institucional em todas as esferas. E eu digo que somos nós, mulheres negras, que vamos reinventar a democracia.
A tarefa de democratização real da política, fundamental para derrotarmos o fascismo e seu duplo neoliberal, a retomada da participação popular nos conselhos, nas conferências e em todos espaços deliberativos exige agora uma expansão da representatividade e a possibilidade de abertura de imaginário para que todes sejamos de fato pertencentes e participantes do processo de transformação de nossa sociedade. Para alcançar este objetivo, precisamos encarar e escancarar a democracia frágil, colonial e racista instalada no Brasil e que se reflete nas estruturas dos partidos e instituições políticas. A mesma que vem sendo ocupada e tensionada por mulheres como Gilka Machado, Leolinda D’altro, Antonieta de Barros, Lélia González, Leci Brandão, Dilma Rousseff, Sonia Guajajara.

Nosso dever político esteve sempre pautado no enfrentamento dessas estruturas de opressão. Após muitos anos de construção política partidária e sindical, vivi no PSOL as contradições que hoje, sem celebração, me levam à decisão de deixar para trás essa organização que ajudei a formar e em que fui também formada. Sobrevivemos ao punitivismo que expulsou travestis do partido, aos racismos que operam na distribuição desigual do poder político e econômico, aos processos de apagamentos e silenciamentos pela política masculinista cis branca que persiste nas fileiras e organizações de esquerda e que, muitas vezes, operam de modo muito semelhante àqueles que deveríamos combater em sua gana pelo poder como um fim em si mesmo.

Hoje saio do PSOL com a certeza de que fiz tudo que estava ao meu alcance para fortalecer uma política de esquerda feminista e antirracista, pautada pelos movimentos sociais e atenta às necessidades da multidão de povos e corpos que compõem esta nação. Foram quase 15 anos de construção coletiva dedicada e disciplinada. Foi no PSOL que encontrei companheiras, companheires e companheiros de luta como, Marielle Franco, Danielle Nunes, Virginia Figueiredo, Marcela Moreira, Denise Simeão, Talíria Petrone, Renata Souza, Dani Monteiro, Luciana Boiteux, Monica Benicio, Áurea Carolina, Bella Gonçalves e Mônica Francisco, a quem agradeço especialmente por ter aberto sua mandata quilombo para que pudéssemos fazer política, seja por meio da discussão e da disputa do orçamento do estado com emendas específicas para as lésbicas, e por meio do Projeto de Lei Luana Barbosa de enfrentamento ao lesbocídio que foi reproduzido em diversos estados e municípios. Nesta mandata trabalhamos também na criação do Projeto de Lei que obriga a afixação de cartazes sobre a saúde de lésbicas nos equipamentos públicos. Foi com Marielle Franco que, coletivamente, escrevemos e construímos a mobilização pelo Projeto de Lei da Visibilidade Lésbica rejeitado por 2 votos. Com ela, fundamos a Frente Lésbica do Rio de Janeiro e a Ocupa Sapatão. São mãos e braços com os quais lutei e que seguirão como parte do que me compõe e me motivam à ação, ao trabalho e à luta.

Agradeço a cada mulher com quem militei, a quem abracei, com as quais ri e chorei e digo que seguiremos nos encontrando na luta. Afinal, como diria Angela Davis, a liberdade é uma luta constante e seguiremos lutando juntes toda uma vida pela sociedade justa e solidária que urge construirmos juntas.

Saio do PSOL com pesar, mas com a absoluta firmeza de que é preciso apostar em novos caminhos, principalmente para a pauta das mulheres, da negritude e da população LGBTQIA+. Queremos lésbicas negras na política e isso significa tanto ocupar os espaços de poder quanto formular e qualificar as políticas públicas e o orçamento.

Sabemos que não há paraísos na política e que a contradição e o dissenso fazem parte de todo o processo. Mas, nesse momento histórico, de enfrentamento internacional ao fascismo e de luta pela sobrevivência e pelo bem-viver de nosso povo, precisamos tomar decisões firmes e grandiosas, por mais custosas que elas eventualmente sejam. Não temos tempo a perder. A hora é agora, é sapatão e é preta.

Nesse sentido, elegemos o PT como espaço onde lutaremos coletivamente para afirmar o lugar das lésbicas negras na política, reivindicar que as chapas majoritárias tenham mulheres negras e lutar pela afirmação da vida e da política na sociedade. Vamos lutar pela eleição de Lula presidente, pela retomada das conferências e dos conselhos, pelo direito humano à comunicação, pelos direitos das mulheres, população LGBTQIA+ e negra, por uma política ambiental ecossocialista, contra a militarização da vida e de combate às fake news.
E é no Partido das Trabalhadoras que encontro companheiras de luta como Benedita da Silva, Verônica Lima, Tainá de Paula, Rosangela Castro, Neide Jane, Fabiana Santos, Janaíbna Oliveira, Indianarae Siqueira, Jaqueline Gomes de Jesus, Carla Ayres, Mariana Rodrigues, Valda Neves. A vocês, todo o meu respeito.

O passo que dou hoje não é solitário. Somos movimentos sociais e dezenas de mulheres e pessoas LGBTQIA+ de diferentes territórios do estado do Rio de Janeiro que constroem e acreditam em um projeto político radicalmente coletivo. Somos feministas socialistas que lutam por políticas de distribuição, e não de concentração. Somos nós, mulheres negras, que vamos reinventar essa democracia.

E são essas pessoas que assinam este documento e gritam: *VAMOS FAZER ACONTECER! A HORA É AGORA!*

*Camila Marins – jornalista, feminista negra sapatão, mestranda em políticas públicas em Direitos Humanos pela UFRJ e uma das editoras da Revista Brejeiras*
*Carol Quintana – professora, lésbica, ativista*
Fátima lima – professora associada da UFRJ. Colaboradora da Casa das Pretas.
Cris Furtado – Historiadora, pesquisadora e editora da Revista Brejeiras
Camila Lamarão – socióloga
Agatha Giselle – transativista de Teresópolis
Rebbecca Goular – transativista de Teresópolis
Robson de Souza Viana – artista plástico e professor
Patrícia Quinteiro – Cantora e compositora
Amanda Schutte – Professora
Laura Hissa – Trabalhadora estadual segurança pública
Janayna Monteiro Sophia – cidadã
Regina Carmela- cineasta
Ronaldo Alves – professor
Gabriela Alves – professora
Mauricio Capistrano – músico
Vani Ribeiro – cantora
Ana Luiza – estudante
Thay Lucas – músico e compositor
Laura Motta – professora

AlfabetizaNem
Ana Claudino- Publicitária, Pesquisadora e criadora das redes Sapatão Amiga
Bianca Barbosa – Chef de Cozinha
Cacau Farias – jornalista, Articulação Brasileira de Lésbicas e Resistência Feminista do RJ
Camilla – Psicóloga servidora pública do município de Resende. MaLu Santos – Sócia da Editora Metanoia
Carla Medeiros – professora de história do IFRJ Nilópolis
CasaNem
Cláudia Reis
Dani Nunes
Débora Ambrósia – produtora executiva do Slam das Minas RJ
Dri Azevedo (professore da Faculdade de Letras da UFRJ, escritore e pesquisadore)
Edmeire Exaltação – Socióloga , ativista feminista e coordenadora da Casa das Pretas.
Eduarda Cassiano – psicóloga
Elza Santana dos Santos ( Elza da Rocinha) cidadã
Érica Leonardo de Souza – professora titular de Filosofia do IFRJ e atriz
Felipe Martins – jornalista e produtor cultural
Fernando Assumpção – economista
Felipe Zava- escritor, tradutor e cantor
Francidéia Gomes- funcionária pública
Geisa Garibaldi- Concreto Rosa
Geiza Carvalho – musicista
Grupo Transrevolução
helena assanti
Indianarae Siqueira – coordenadora da CasaNEM
Isabel Ostrower – Professora de sociologia do IFRJ Nilópolis
Isabela Vieira – jornalista, ativista pelo direito humano à comunicação
J.Lo Borges – Historiadora, multiartista e teórica lésbica
Jaqueline Gomes de Jesus – Professora Doutora em Psicologia (IFRJ e FIOCRUZ) e Presidenta da Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura (ABETH)
Julia Naidin – pesquisadora
Laila Queiroz – professora
Laís Malek – jornalista
Laura Alves – jornalista
Laura Jeunon – artista visual e fotógrafa lésbica
Laura Alves – jornalista
Léa Carvalho – publisher da Editora Metanoia
Letícia Vieira da Silva – analista internacional e gestora de projetos
Lívia Duarte – jornalista
Lorena Braga
Luiggia Girardi – professora
Luísa Tapajós – Psicóloga, feminista, ativista lésbica e editora da Revista Brejeiras
Maria Cristina Furtado – psicóloga, escritora e teóloga
Maria Eduarda Aguiar – advogada, presidente do Conselho Estadual LGBT e do Pela Vidda
Marianna Motta – Produtora Artística, Gestora de Projetos de Arte e Tecnologia, Elaboração e Execução de Projetos Culturais
Michele Seixas – Assistente Social e ativista lésbica
Pâmela Souza da Silva – Professora
Paula Rabello- Designer, Cantora e musicista
PreparaNem
QUILOMBOCA
RENEGRA
Roberta Ribeiro Cassiano – Professora Mestra em Filosofia (IFRJ) e editora da Revista Brejeiras
Rosangela Castro – ativista lésbica
Rodrigo Salgueiro – sociólogo
Semirames Khattar, professora de Direito
Sergio Baptista – professor UFRJ
Suane Felippe Soares – pesquisadora sobre lesbocídio
Taís Feijão – cantora, compositora e universitária de LMU (licenciatura em música)
Talassa Fonseca- Historiadora. Arraia do Cabo – RJ
Tom Grito – poeta e co-fundador dos coletivos Slam das Minas RJ e Transpoetas
Valeria Lima- tradutora, escritora e pesquisadora, mestre e doutoranda em Lingüística Aplicada (UFRJ)
Virginia Figueiredo – LBL – Liga Brasileira de Lésbicas
Vivian Fraga – Psicóloga
Yone Lindgren

 

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