Marcelo Miller: de procurador a procurado

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Tido como braço direito do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, o procurador Marcelo Miller trabalhava nas investigações da Operação Lava-Jato entre 2014 e 2016, onde negociava acordos de delação premiada de diversos réus, incluindo o ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado, e do ex-senador Delcídio do Amaral. Miller também é o autor de uma delação contra o ex-presidente Lula.

Miller passou de procurador a próprio investigado na Lava-Jato, quando áudios anexados por engano pelos irmãos Wesley e Joesley Batista na delação premiada da JBS enviada à PGR mostram que ambos eram ”doutrinados” por Miller para fazer as gravações, que mais tarde seriam negociadas em troca da liberdade dos réus. Joesley Batista chega a afirmar que Marcelo Miller tinha forte influência nas decisões de Janot sobre o acordo.

Não para por aí. Em abril deste ano, Miller deixou cargo no Ministério Público Federal (MPF), onde trabalhava há 13 anos, para se associar ao escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe. Não coincidentemente, o referido escritório representava a empresa J&F, que controla a JBS, dos irmãos Batista, nas negociações de acordos de leniência da holding. O que será que fez um procurador da república com 13 anos de carreira trocar seu prestigioso cargo para virar sócio de um escritório de advocacia?

Ele foi acusado pela Polícia Federal por corrupção passiva, por interceder diretamente nas investigações sobre a JBS em favor do grupo, além de garantir condições ”especiais” ao grupo J&F no acordo de delação premiada junto à PGR. Sua defesa, claro, negou todas estas afirmações. Via sua assessoria de imprensa, Miller divulgou para a mídia a seguinte nota:

“Repudia veementemente o conteúdo fantasioso e ofensivo das menções ao seu nome nas gravações divulgadas na imprensa e reitera que jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei.

Não tinha contato algum com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem atuação na Operação Lava Jato desde, pelo menos, outubro de 2016. Nunca atuou na Operação Greenfield, nem na Procuradoria da República no Distrito Federal.

Enquanto procurador, nunca atuou em investigações ou processos relativos ao Grupo J&F, nem buscou dados ou informações nos bancos de dados do Ministério Público Federal sobre essas pessoas e empresas.

Pediu exoneração em 23/2/2017, tendo essa informação circulado imediatamente no MPF.

Nunca obstruiu investigações de qualquer espécie, nem alegou ou sugeriu poder influenciar qualquer membro do MPF.

Teve uma carreira de quase 20 anos de total retidão e compromisso com o interesse público e as instituições nas quais trabalhou.

Ressalta que sempre acreditou na justiça e nas instituições, e continua à disposição, como sempre esteve, para prestar qualquer esclarecimento necessário e auxiliar a investigação no restabelecimento da verdade.”

Gravações recém-entregues pelo escritório Trench, Rossi e Watanabe à CPMI da JBS, porém, contradizem as palavras do procurador. Segundo as filmagens, Marcelo Miller pode ser visto entrando cinco vezes no escritório, antes de ser contratado. A primeira vez, na manhã de 13 de fevereiro deste ano, ou seja, antes de pedir sua exoneração do MPF. Ele esteve lá mais uma vez antes da exoneração, no dia 20 de fevereiro, onde inclusive permaneceu no escritório por mais de 5 horas (leia aqui a notícia completa com todas as datas e horários).

Miller também será ouvido pela mesma CPMI, embora ainda não haja data definida para o seu depoimento.

Os fatos apresentados ilustram a clara articulação das delações e a negociação de vantagens. Infelizmente, não surpreende que venha à tona mais um caso que comprova a existência do ”mercado de delações” da Operação Lava-Jato (leia mais sobre isso aqui).

Este é o tipo de ”profissional” que escreve um documento acusando Lula. Dá pra confiar?

 

Fontes

https://exame.abril.com.br/brasil/quem-e-marcelo-miller-e-o-que-ele-tem-a-ver-com-a-delacao-da-jbs/#

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/09/04/ex-braco-direito-de-janot-miller-e-investigado-por-mpf-e-oab.htm

https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/317164/PF-acusa-ex-procurador-Marcelo-Miller-de-corrup%C3%A7%C3%A3o-passiva.htm

 

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