O Brasil, no passado conhecido como uma nação cordial, é hoje um Estado de Ódio.
Surpresa seria se não fosse. Depois de anos e anos e anos de uma atuação irresponsável, mal intencionada e ideologicamente comprometida por parte da grande mídia corporativa, temos hoje milhões de criaturas cujo centro moral foi arrancado a golpes de Globo, Folha e Veja. Em seu lugar, preconceito, intolerância e desumanidade foram implantados por cirurgiões travestidos de âncoras de jornal, colunistas de grande portais e juízes.
O debate se tornou monólogo, opiniões formuladas sem qualquer embasamento minimamente sólido viraram fatos e mentiras se converteram em manchetes que passaram a servir de “evidência” jurídica, criando um círculo vicioso no qual fantasias são legitimadas por jornalistas e passam a ser repetidas ad nauseam até se tornarem “fatos estabelecidos”.
Com isso, temos hoje uma direita que não é movida por princípios ideológicos, mas pelo desejo de exterminar a esquerda. Se não conseguem vencer o debate nas urnas, movem a discussão para tribunais dominados por seus pares, ufanados pela mídia chefiada por seus patrões e empurrada nas redes sociais e nas ruas pela força de frustrados de classe média que juram ser respeitados pelas elites às quais sonham pertencer, mas que estarão para sempre fora de seu alcance.
Como todo movimento fascista ao longo da História, imediatamente se apropriaram dos símbolos nacionais – a bandeira, o hino, o direito de aqui permanecerem – e passaram a tratar os oponentes-agora-inimigos como invasores que só pensam na destruição da pátria. Embalados pelo OuviramDoIpirangaAsMargensPlácidas, berram que sua “bandeira jamais será vermelha” e se sentem os donos de todo o território enquanto gritam “Vá para Cuba/Venezuela/similares”.
Os que lutam por direitos iguais para todos e reprovam a violência do Estado são “protetores de bandido”; os que expõem a opressão a minorias são “vitimistas”; os que insistem na democracia e denunciam o golpismo são – sem exceção! – “comunistas/petralhas/esquerdopatas”.
Intimidam, insultam e ameaçam sem qualquer pudor. Sabem que serão protegidos pelo Estado cuja prerrogativa de oprimir apoiam – desde que esta seja direcionada aos “mimimizentos”, aos que “fizeram por merecer”.
Se identificam como “cidadãos de bem”, berram como defendem “família e Deus”, porém celebram o fim das vozes silenciadas com mordaças feitas de bala e barras de prisão. Amam se elogiar publicamente, apresentando-se como criaturas “decentes”, mas no segundo seguinte publicam posts e tuítes desejando a morte de seres humanos que ousaram pensar diferente.
Reservam sua compaixão, em vez disso, para a dor de corporações e do pobre “mercado” – estes, sim, as grandes vítimas da insanidade esquerdista. Alegam que a privatização é a cura da corrupção, convenientemente esquecendo que os grandes corruptores estão sentados, em sua maioria, nas mesas diretoras das mesmas empresas que agora querem botar as mãos no que o Estado construiu.
Vomitam contra o bolsa-família, mas acham lindo que o Estado gaste bilhões oferecendo auxílio-moradia a um judiciário já repleto de benesses e beneficiado por salários mais do que confortáveis. Criticam o inchaço deste mesmo Estado, mas sonham com a aprovação em um concurso público. Afirmam seu patriotismo, mas aplaudem toda vez que Trump difama o Brasil e que uma multinacional acrescenta um bem brasileiro à sua carteira de ações.
E se sentem cada vez mais empoderados, mesmo que odeiem quando esta palavra é empregada por minorias. Sabem que são tão impunes quanto seus políticos e partidos de estimação (que negam ter, mas cujas “reformas” aplaudem).
E por que não deveriam se sentir imunes à “justiça”?
Os assassinos de inúmeros ativistas estão livres. Os assassinos de Marielle e Anderson estão livres. Os criminosos que atiraram contra a caravana de Lula estão livres. E os terroristas que hoje dispararam contra o acampamento em Curitiba assim permanecerão.
Já Rafael Braga foi condenado a 11 anos de prisão por nada. Obras de arte passaram a ser censuradas com a naturalidade de uma ditadura. Lula está encarcerado depois de um processo repleto de irregularidades encabeçado por um ególatra que se nega até mesmo a obedecer juízes de instâncias superiores à sua e que usou matérias de jornais em vez de provas para colocar em uma cela o líder disparado de todas as pesquisas eleitorais. E que é proibido de receber visitas ou mesmo cuidados médicos por uma outra juíza que aspira à mesma fama do colega mergulhado no autodeslumbramento.
Ambos sedentos pelos aplausos daqueles que, diante de um vídeo de protesto contra o atentado ao acampamento em Curitiba, responderam com frases como “que isso vire rotina!”, “todos tinham que levar um tiro”, “20 tiros é coisa de incompetente, pois não levaram pentes extras para dar no mínimo uns 200 tiros” e, claro, “vocês são obra do demônio”. E não é à toa que um dos autores destes comentários tinha, como foto de perfil, a imagem do juiz que representa o que há de pior no judiciário brasileiro.
Mas ainda mais chocante é que não percebam que toda ação gera uma reação – e que, quando esta vier, a proteção que julgavam ter acabará se revelando menor do que supunham enquanto aqueles que os transformaram em máquinas de ódio se exilam (como tantos outros golpistas) em Portugal. Que é governado pela mesma esquerda que aqui tentam exterminar.
Afinal, ao contrário do ódio e da estupidez, coerência nunca foi um forte destas criaturas.
Pablo Villaça, em seu facebook 28/04