Entrevista com a secretária nacional de organização, Sonia Braga

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Bruna Rodrigues

Em fevereiro, durante sua festa de 42 anos, o Partido dos Trabalhadores lançou os Comitês Populares de Luta. Na ocasião, a principal justificativa para a criação dessa nova experiência partidária foi a necessidade de “criar um forte e organizado movimento capaz de sustentar, nas ruas, um Programa Popular de Reconstrução e Transformação do Brasil”. Sônia Braga, que é Secretária Nacional de Organização, é uma das idealizadoras dessa proposta inovadora, que acolhe a importância de fortalecer as bases para o êxito dessa empreitada, que é eleger Lula presidente e um novo projeto para o país. Entre uma agenda e outra, mesmo cansada, ela faz uma pausa para conversar comigo e explicar como funciona os Comitês na prática e também de onde tira inspiração para seguir na luta.

Bruna: Sonia, conte um pouco de sua trajetória de como chegou ao Partido dos Trabalhadores.

Sonia: Bom, meu nome é Sonia Braga, as pessoas entranham inclusive né, por causa da grande atriz, uma pessoa de esquerda. Mas história é que no ano em que nasci o nome mais usado era Sônia e meu sobrenome é Braga. Então é isso mesmo! Eu me filiei ao PT quando tinha 17 anos. Era no comecinho do partido, nos anos 80, e ainda éramos Comissão Provisória. Em 1972 acontece nossa primeira eleição, lá no Ceará. Eu estava na coordenação das campanhas do PT. Foi o meu primeiro voto, em 1982. Ainda era um voto vinculado, ditadura, mas fomos construindo o partido e assim passei por todas as fases da militância. Vivi o movimento popular, o movimento de ocupação, os movimentos de associações de moradores. Eu fazia as duas coisas: o PT e a associação. Fui das zonais, fui dirigente nas minhas zonais, fui dirigente do meu município até que fui para o diretório estadual, para a executiva estadual e lá fui secretária de organização, secretária de geral e presidente. A primeira mulher presidente do meu estado! E cheguei aqui, passei também a ser diretora nacional do PT. Levei 40 anos pra chegar na executiva nacional do PT. Mas pra mim isso não é um problema. Só um partido como o PT permite que uma militante como eu, filha da classe trabalhadora, seja secretária nacional de organização. Então, quando me vejo na função que tenho hoje digo: foi pra isso que nós criamos o PT. Foi pra isso que o presidente Lula e todos aqueles intelectuais, militantes, que estavam saindo ditadura, as comunidades eclesiásticas, as de bases, e muitos outros envolvidos lutaram. Sem querer ser egocêntrica, eu acho que represento isso: sou uma filha do povo, não sou de família importante, sou filha do povo, de um trabalhador, de uma costureira, de um operário que virou Secretária Nacional de Organização do PT. Então, minha trajetória é essa. Sempre com dificuldade, gente, por que ao mesmo tempo que a gente disputa o poder na sociedade, evidentemente que tem disputas dentro do partido, né. E eu sou cearense, sou nordestina, sou mulher negra e mãe solo. Inclusive, o poder no Brasil é muito centralizado. No PT não era diferente, o poder estava no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas. Agora as coisas mudaram eu sou a primeira pessoa do nordeste a ser secretária nacional de organização do PT. Então, penso de novo que é para isso que nós o criamos. Nós criamos um partido para disputar dentro do partido nossas ideias para toda a sociedade. Sou um pouco da síntese do que é o PT.

Bruna: Gostaria que falasse um pouco do desafio de ser secretária de organização nessa conjuntura em que o Lula tem que voltar né, precisa voltar, para que o povo brasileiro tenha um pouco de paz. Como vocês tem pensado estratégias para que ele saia vitorioso nessas eleições?

Sonia: Eu tenho uma vó viva de 101 anos e ela, desde que eu me entendo por gente, diz que pobre, na verdade, que nós trabalhadores não temos direito a ter medo. Então se não temos direito de ter medo nós temos que ter coragem! E aí, gente, não é fácil, evidentemente, por que nós temos 2 milhões e 400 mil filiados internos, dentro do partido. Só estamos com 1 milhão e 700 registrados no TSE. Olha, só aí tem 600 mil companheiros e companheiras do PT que não estão registrados. Porque? Por que toda a nossa estrutura de diretórios municipais é feita de trabalho voluntário. Então, muitas vezes um companheiro existe em nosso sistema pra nós termos acesso, mas não existe, por exemplo, no TSE. Ou acontece o contrário: existe no TSE, mas não existe dentro do nosso sistema. Por que pra nós é muito importante ter um sistema como o SISFIU, que mesmo não estando 100% atualizado permite que estejamos mais próximos dos nossos filiados, não é? Inclusive aconteceu isso há pouco tempo: 135 mil filiados e filiadas participaram do processo setorial. Não é brincadeira isso, gente! No fim, votaram em urna eletrônica 60 mil pessoas, pouco mais de 60 mil pessoas. Então, isso nos causa medo, mas a gente consegue. Sabe por quê? Eu fico assim, tem hora claro que bate aquela dúvida né, mas a gente consegue, por que não tem militância como a nossa! Olha no começo, quando estávamos organizando o PT, saindo da ditadura, o pessoal fugia de nós, certo? Ficavam com medo de nós. Afinal, quem é aquele povo? Do outro lado ficava a pergunta: será que a polícia vai nos perseguir? Nós também tínhamos medo: não era fácil, mas vencemos, superamos. Em pouco tempo conseguimos eleger o primeiro operário presidente. Ele fez um brilhante governo. Conseguimos eleger a primeira mulher presidente. Só caímos com o golpe. Nós não perdemos eleição, nós fomos tirados né, o presidente Lula foi preso numa situação absurda, uma prisão injusta, evidentemente, para ganhar eleição. Com Fernando Haddad, aquela loucura que foi, era muito difícil vencermos com todo aquela farsa montada. Mas essa militância sempre se supera. É como o presidente Lula disse: qual é o partido, qual é a militância que fica 580 dias numa porta de uma polícia federal, bom dia, boa tarde, boa noite? Confiaram na sua liderança sabendo que ali estava um esperançar do Brasil. Então, é muito desafio? É, mas é muita confiança! Por que eu confio na nossa militância. Nossa militância não falta. É só darmos um caminho, um canal pra que eles e elas possam participar. Pode confiar que dá certo.

Bruna: Eu sou jornalista e muito apaixonada por redes sociais. Eu queria que você falasse um pouco da importância das redes sociais, do WhatsApp, Facebook, Instagram para essa organização que vocês têm pensado.

Sonia: Olha, o PT está fazendo o investimento máximo que pode. Muito aquém do necessário né. As redes bolsonarista, por exemplo, não são fruto de dinheiro brasileiro, é financiamento da direita internacional, certo? Da ultradireita, do neofascismo, que é um movimento mundial. Então, o que eles gastam é absurdo! O que gastamos num mês, eles gastam num dia. Mas o PT está fazendo um investimento grande em relação a isso, não é à toa que nós temos agora o funcionando direto da TVPT, da Rádio PT, inclusive nessas plataformas de streaming né. Por exemplo, lá no Spotify tem a rádio PT. Também estamos em todas as redes. E criamos um aplicativo, nosso secretário de comunicação, o companheiro Gilmar Tato, há muito tempo pensava conosco e isso foi implantado. Esse aplicativo ainda não viralizou, mas temos um bom percentual de companheiros e companheiras. E é muito importante, inclusive, divulgarem isso: baixe o nosso aplicativo. Vai lá no Google Play, no Apple Store e baixe o nosso app. É importante por que assim você recebe noticiais toda hora, é também possível criar grupos lá. É fundamental. Não existe mais como fazer política, não existe mais como se comunicar com o mundo, com as pessoas, sem estar nas redes socais. Nos anos 50 foi o rádio, nos anos 60 a televisão, agora é esse novo mundo das redes sociais, das mídias alternativas. É a comunicação direta, pessoa pra pessoa, não tem outro caminho. E o PT está investindo o máximo que pode, gostaria muito de investir mais, mas tá investido o máximo que pode. E tem espaço pra todo mundo. É seguir o que você quiser: é Facebook, Instagram, TIKTOK e outras aí. O PT está em todas as redes.

Bruna: Na última reunião com os setoriais você falava em cinco mil comitês. Como que vocês chegaram nesse número? Qual é a expectativa de expansão desses comitês pelo Brasil?

Sonia: Bom, a primeira coisa a pensar é que nós hoje temos certa de 3.500 diretórios municipais, certo. Pensamos que todo diretório municipal tem a obrigação de se envolver e criar pelo menos um comitê popular né. Para fazer parte dessa rede que está se organizando, se inserindo cada dia mais na luta dos trabalhadores e trabalhadoras e no cotidiano do nosso povo. Nosso povo está sofrendo muito e o PT tem que estar absolutamente inserido na vida das pessoas. Os Comitês Populares de Lutas são para isso. Nós temos 3.500 diretórios municipais, nós elegemos cerca de 500, realizou-se cerca 550 encontros estaduais dos setoriais, por que temos 23 setoriais, uma boa parte deles teve encontros em todos os estados. Além do nacional. Então, só aí somamos 4 mil. Temos uns núcleos, temos as zonais. Então, nós chegamos a partir do que nós já temos, já dá pra criar essa grande rede de Comitês Populares de Lutas, de organizar, de nos organizar no melhor para estarmos mais pertos, mais solidários e mais presentes na vida do nosso povo.

Bruna: Além desses comitês funcionarem de maneira física, eles também vão funcionar de maneira remota como você propôs: cada celular um comitê. Qual a expectativa de vocês organizarem o fluxo de informações que receberão?

Sônia: Olha a nossa ideia é a seguinte. Uma, você que é petista, organiza o seu comitê, do jeito que você acha certo. Comitê Popular de Lutas para se inserir na luta do povo, para fazer a luta eleitoral e depois para que a gente garanta as nossas pautas, o nosso governo do presidente Lula seja como ele diz, muito melhor que ele já fez, de todos os jeitos. Então, nós vamos semanalmente enviar para esta rede, seja uma pessoa num comitê virtual, seja um grupo no comitê físico, né, no comitê territorial como a gente chama, num bairro, numa favela, numa comunidade, numa rua, num bar. Ah, eu tenho uns amigos que se encontram no bar, pois esses amigos criam um Comitê e eles vão em algum dia das suas atividades realizar uma ação: conversar com outros amigos, conversar com os amigos que estavam no bar, tomando uma cervejinha e pensando política. Afinal, essa é a eleição que vai decidir o rumo do Brasil. O Brasil será novamente uma pátria soberana, ou o Brasil será um país negacionista, atrasado, uma ditadura da extrema direita? Essa é decisão que vamos tomar, é bem “facinho” a decisão. Então, vamos semanalmente enviar comunicação para essa rede que estamos criando e vamos também, queremos, receber de cada um que fez uma atividade, fez um card, divulgou um card, fez repercussão. Manda pra gente! Vai, fez uma atividade, fez uma porta em porta, fez um café com bolo e chamou as amigas, as vizinhas para conversar, manda foto pra gente. Vamos divulgar nos nossos canais de comunicação.

Bruna: Faça, por favor, suas considerações finais.

Sônia:
Não, é só dizer que saio daqui muito feliz. Eu quero dizer isso, elogiar o povo do Rio. Pode dizer aí, pode colocar na matéria. Eu gostei muito, eu achei muito bacana, muito enriquecedor o debate aqui. Foi muito enriquecedor mesmo. Muitas ideias, inclusive. Coisas que a gente não tinha pensado e que vamos pensar melhor ou explicar melhor. E assim, como eu disse, aqui não estamos inventando a roda. O que queremos é estar nas ruas e mudar o país. Não dá para descansar nenhum dia né. Não dá para descansar!

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