Em 1993, Lula fez suas primeiras Caravanas para conhecer e ser conhecido pelo Brasil profundo. Agora suas Caravanas são para despertar a memória política do povo de quando tinha, em seu governo, emprego, inclusão social e um salário mínimo que aumentava todo ano. Quando a memória do povo é despertada, se torna uma poderosa arma política que anula até mesmo as doses fortíssimas da anestesia que lhe são inoculadas diariamente pelos Jornais Nacionais da vida.
É o que vem acontecendo nas Caravanas pelo Nordeste e Minas e tudo indica vai continuar se repetindo no resto do país. Junto com o povo mobilizado nas inúmeras cidades e nos assentamentos por onde passa, a Caravana Lula está construindo a saída democrática contra o golpe. Lula está encorpando, com o povo, as lutas dos setores mais organizados e conscientes dos trabalhadores, das mulheres e das juventudes.
Basta ver as fotos e ouvir os discursos de Lula nas Caravanas para percebermos que ele é o herdeiro das lutas de Tiradentes, pela Independência; de Zumbi e de José do Patrocínio, contra a escravidão e pela sua abolição; de Vargas, pelos diretos trabalhistas e a soberania nacional; de Goulart, pelas reformas de base e de Brizola e Darcy Ribeiro, pela educação de qualidade para o povo e contra a ditadura da comunicação exercida pela Rede Globo. É exatamente por isso que sobre ele recai todo o ódio das elites do atraso, historicamente acumulado.
Sabendo a preferência eleitoral por Lula em todos os setores sociais e não apenas das bases populares, mostrada pelas pesquisas, a mídia golpista começa agora a atacá-lo de querer usar as Caravanas para fazer sua campanha eleitoral. A crescente insatisfação do povo com o golpe vai derrubando um após outro os argumentos casuísticos da direita contra Lula.
Quando cresce o clamor popular do “Volta Lula” e se espalha para outros segmentos da sociedade, todos, mas principalmente os golpistas sabem que a tendência que vem se firmando será transformar 2018 na eleição do “Volta Lula”. Muitas pessoas ainda não perceberam que não serão eleições rotineiras, da escolha simples de um dos candidatos, mas a eleição-plebiscito, a eleição do estadista do povo, do “nós contra eles”, que poderá enterrar o golpe e resgatar a democracia, os direitos dos trabalhadores e a soberania nacional.
Mais do que isso, tudo indica que será a eleição da democracia contra a barbárie fascista de Bolsonaro. Ao contrário de Hitler, que empregou o povo alemão no Estado máximo do partido nazista e das grupos econômicos belicistas, Bolsonaro defende a exclusão social do Estado mínimo neoliberal, à moda Pinochet. Por isso a base popular se volta para Lula e não para Bolsonaro, porque visa recuperar o espaço que perdeu no Estado e no orçamento público.
Quando Lula, vendo todo o potencial de mobilização popular das Caravanas, disse em Belo Horizonte que “perdoava os golpistas arrependidos”, ele criou ali a ponte para a unidade nacional pelo restabelecimento da democracia e o seu direito democrático de ser candidato. Ele sabe que o povo precisa conquistar primeiro o Estado democrático de direito para poder ampliar a sua luta pela democracia econômica, política, social e cultural.
E diante dessa necessidade popular o PT e as esquerdas têm a obrigação de saber que toda unidade não se faz sem a luta interna de seus componentes. Enquanto os “arrependidos” querem usar Lula para voltar à situação anterior, as classes trabalhadoras o defendem como arma eleitoral para resgatar seus empregos e direitos sociais e acabar com a fome que o golpe trouxe de volta. E para nós, da esquerda, o mais importante: para podermos avançar com as reformas de base numa Constituinte de caráter popular e com a regulação democrática da mídia.
Se Marx estivesse entre nós, certamente estaria com Lula e a luta concreta das massas, a única luta que abre perspectivas revolucionárias reais; e não com os doutrinadores de esquerda, que fantasiam revoluções sem povo real, mas com muita “massa” de modelar.
Val Carvalho é militante do PT