Celso Amorim: ”O que gera confiança entre as nações é a independência”

Jessé Souza: A elite do atraso, da escravidão até hoje em dia
13/10/2017
O Brasil que o povo quer: alimentação e biotecnologia
16/10/2017

Via Brasil 247

Ministro de Relações Exteriores nos dois mandatos de Lula e também no governo de Itamar Franco, o embaixador Celso Amorim concedeu entrevista exclusiva à TV 247 e não faz rodeios para explicar o desprestígio internacional do governo Michel Temer, condição que tem levado governos estrangeiros a tirar o país da rota de viagens obrigatórias. “Os países não fazem julgamento moral”, diz. ” Fazem julgamento prático: ‘esse pessoal, essa gente não dura.’ As pessoas veem essa crise de legitimidade e não querem se comprometer”.

Celso Amorim diz na entrevista que sob Temer “vivemos uma opção de submissão ao capital financeiro internacional. Isso é projeto estratégico que vinha de longe e não só de privatizações mas de desnacionalizações”. Para ele, “nos melhores momento a (atual) política externa brasileira não faz nada. Cumpre tabela. Nos piores momentos é inconveniente, como foi caso da Venezuela. É inconcebível diante das afinidades que o Brasil tem com a Venezuela que haja um esforço de mediação que o Brasil não tenha participação alguma. E o nosso chanceler disse algo que até é verdade mas é triste: ‘o Brasil não pode participar como mediador porque tomou um partido’. É absurdo. A política do Lula era ideológica mas nós conversávamos com os dois lados. A política atual não é ideológica mas só conversa com a oposição”, ironiza.

Na entrevista, Amorim comenta o conflito entre o presidente norte-americano Donald Trump e o arsenal atômico da Coréia do Norte e prevê: “minha impressão é que vai haver uma aceitação de fato das armas nucleares da Coreia do Norte, como progressivamente ocorreu com relação a Índia, Paquistão, sem falar de Israel. Não vejo margem para recuo do regime norte-coreano. Para ele, arsenal atômico é sinônimo de soberania”.

Lembrando o esforço de Lula para esvaziar a ALCA, o acordo de livre comercio patrocinado por Washington, “bloqueado por um golpe de “jiu-jitsu” diz,  Amorim afirma: “Não nos interessa viver sob a sombra de Washington nem sob a sombra de Pequim nem de nenhum outro país”. Na entrevista, ele reconstrói momentos importantes das relações com o governo de George W. Bush e Lula, dizendo que havia grandes diferenças mas uma relação “ de confiança entre os dois governos. Ao contrário do que se imagina, o que ganha a confiança não é a submissão, é a independência”.

Ministro da Defesa governo Dilma, quando manteve um convívio constante com os comandantes das Forças Armadas, Amorim deixa claro que não gostou dos pronunciamentos recentes que apontavam para uma intervenção militar mas afirma: “Tendo a ser otimista e acreditar que os militares irão respeitar a Constituição. Tenho certeza de que vamos atravessar essa coisa”.

Ao falar sobre a realização de exercícios militares conjuntos com o Exército americano na Amazônia, ele é cauteloso: ”acho lamentável e fiquei surpreso. Sempre vi grande interesse e grande firmeza dos militares para defender que na Amazônia não se mexe”. Quando discute o argumento de que se trata de uma “operação humanitária”, ele reage com um alerta: “hoje ninguém pode distinguir o que é uma operação humanitária (e o que não é)”.

Na entrevista, Amorim também comenta o convite de Lula para disputar o governo do Rio de Janeiro em 2018 pelo Partido dos Trabalhadores – e deixa claro que ainda não tomou uma decisão.

Assista a entrevista na íntegra:

Os comentários estão encerrados.