O nazi-fascismo “Bento Carneiro” do governo Bolsonaro, por Roberto Ponciano

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por Roberto Ponciano*

Chico Anísio tinha personagens sensacionais, arquétipos de situações do Brasil, um tipo de humor fino, que não fazemos mais. Bento Carneiro era o paradigma do sentimento de vira-latismo, do mimetismo, de acharmos que tudo que é bom nos chega de fora, era o “vampiro brasileiro”, imitação grotesca da estética estrangeira, embora muitos nunca o tenham lido assim. O nazi-fascismo de Bolsonaro é o nazi-fascismo “Bento Carneiro”, que é nazista, é fascista, mas só conseguiu copiar dos movimentos ultrarreacionários o que eles tinham de pior. Todas as bandeiras dos nazistas desse governo são falsas.

Olavo de Carvalho não é Heidegger, o arremedo de astrólogo com filósofo, rejeitado pela academia e recalcado por conta desta rejeição. Ele parece autor de uma esquete de Monty Python, que não deu certo, uma piada pronta e uma caricatura de si mesmo; com sua fixação na fase anal e ataques gratuitos a Deus e ao mundo; com citações de latim, de estudante de ginásio do tempo da “admissão”. Um doidivana que tenta transformar burrice e teoria da conspiração na “ideologia deste governo”. Claro que é um governo que gira em falso, do nada ao lugar nenhum.

O nazismo na Alemanha, que ceifou 50 milhões de vidas na segunda guerra mundial, ao qual não cabem elogios, nem este era tão tosco. Ainda que queimasse livros, dizia ser herdeiro do Renascimento e do Império Romano. Filosoficamente, ele dizia inspirar-se em Nietzsche, Hegel e na filosofia clássica alemã (que podia ser ensinada na Alemanha, sem que se fizessem referências à Marx), e tinha como intelectual ativo Heidegger (reitor de uma universidade nazista). Ainda que o filósofo tenha sido nazista, é difícil, ainda hoje, situar suas contribuições filosóficas dentro do que o nazismo fez. Mas, sim, há um abismo insondável entre Heidegger e Carvalhinho (o que tem o desejo explícito de lamber o cu do Caetano).

Weintraub não é Goebbels, Damares não seria chamada para cozinhar em nenhum ministério da Alemanha nazista, ou da Itália Fascista. Por mais reacionários e grotescos que tenham sido estes movimentos, eles escolhiam dentre seus melhores quadros para seus ministérios. Goebbels, Himler e Goehring eram gênios do mal. Damares, Weintraub e Paulo Guedes não servem nem como gnomos de fábula da Disney. Parece que a escolha do ministério de Bolsonaro é seleção para o filme “quanto mais idiota melhor”. Dentre as ideias odiosas do nazi-fascismo, a única que este governo utiliza é o ódio à esquerda e a tentativa permanente de demonização do inimigo.

Qualquer pessoa que leu três linhas de história sabe que seria impossível Hitler entregar, de graça, o minério de ferro alemão aos estadounidenses; ou doar, quase de graça, a empresa aérea alemã à Boeing. Sim, o nacionalismo nazi-fascista era chovinista e levou à guerra, mas era nacionalista, em que pese tudo de que tinha de errado, e o governo estatista e planejador. O ministro da Economia, que recuperou a Alemanha do caos, Hjalmar Schacht, aplicou uma receita keynesiana de recuperação da economia, com fortíssimo investimento estatal, fundos de desemprego, crédito estatal, expansão de obras. Paulo Guedes só quer vender o Brasil, se ele pudesse, venderia a mãe aos Estados Unidos em suaves prestações. Deve ser caso único, de um governo assumidamente nazi-fascista, no mundo, que pratica neoliberalismo selvagem. Fascistas e conservadores, pelo mundo, são anti neoliberais. A jabuticaba brasileiro criou um movimento nazi-fascista, fundamentalista religioso, que só herdou o pior do nazi-fascismo pelo mundo: homofobia, misoginia, racismo, exaltação do preconceito, chauvinismo sem verdadeiro nacionalismo e características únicas. Ódio a qualquer tipo de inteligência e ou raciocínio.
Na Alemanha, Hitler exaltava Wagner e Nietzsche. No Brasil, Bolsonaro quer acabar com a Rouanet e Damares acha estiloso “desconhecer Chico Buarque”. O nazismo alemão perseguia, burramente sim, a arte “depravada”: Picasso, Dali, Frida Kahlo, tudo que cheirasse à modernidade e invenção era tachado como bolchevismo e proibido, e ou perseguido. Mas fazia apologia do classicismo e investia em teatro, cinema, música clássica, como forma de mostrar que era um governo “culto”. O nazismo à brasileira tem raiva de tudo, teatro, cinema, música. Todas as formas de arte, clássicas ou modernas, são atingidas pelo ódio dos ressentidos e conseguimos criar o movimento nazi-fascista mais burro da história: basta ver as consignias dos nazi-fascistas que foram para as ruas no dia 26 de maio, que chegaram ao ponto de retirar uma faixa de defesa da educação. O nazi-fascismo brasileiro parece muito com o franquismo e o salazarismo, herdeiros da Inquisição (o alemão tinha características diferentes), que provocou, por exemplo, na Espanha, o expurgo de quase a totalidade dos escritores, fora os assassinatos, como os de Lorca e de Miguel Hernandes.

O nazi-fascismo à brasileira só não mata e persegue à luz do dia, porque não conseguiu consenso para isto. É só ver às faixas de incensamento à Ulstra, à tortura e à ditadura militar, durantes os últimos atos, para ter certeza de que, se a minoria ultra-direitista do bolsonarismo, vier a ser maioria, não terão nenhum pejo de o fazer. A única bandeira que une esta minoria, dentre os 57 milhões de eleitores de Bolsonaro (nem todo eleitor de Bolsonaro é nazi-fascista, Bolsonaro é um fenômeno que surge da criminalização e da demonização da política, é o macaco Tião encarnado em pessoa), é a morte. À morte ao diferente, à morte à inteligência.
Tanatos os move. O recalque os move. O ódio os move. O ressentimento os move. Esta minoria que não é mais silenciosa, que saiu do armário, é assumidamente nazi-fascista, ainda que não use a suástica. E conceituo o porque ela é nazi-fascista (e não só fascista). A característica principal do nazismo (Levinas), é a demonização do outro. A criação do inimigo imaginário da nação (judeus, comunistas, socialistas, gays, etc) a ser ELIMINADO. O nazismo não suporta a contradição, o nazismo não quer derrotar o inimigo, quer eliminá-lo. Os filhos de Bolsonaro pregam abertamente uma cruzada contra a esquerda. A minoria que foi para a rua sonha explicitamente com esta cruzada em nome dos valores “cristãos ocidentais’. O mais tosco disto tudo, neste nazi-fascismo “Bento Carneiro”, é que nem valores cristãos ocidentais, este povo consegue defender. Levinas, um religioso, mostra que, se identificamos no outro a face do divino não podemos cometer um crime. É necessário desfigurar e demonizar o outro, para podermos assassiná-lo. Os valores cristãos do movimento nazi-fascista, pró Bolsonaro, não recebem acolhida dos evangelhos de Jesus, que pregam abertamente “amar ao próximo como a ti mesmo”. Do outro lado, não sobraram valores ocidentais para defender, um nazi-fascismo, chauvinista, mas sem nacionalismo, prega o caos e a destruição do pais. Talvez seja o movimento mais grotesco e reacionário de todos os tempos.
Bem, depois de aclarar o pensamento, ou a falta de pensamento do nazi-fascismo bolsonarista brasileiro (o nazi-fascismo Bento Carneiro com fixação na fase anal), cabe demonstrar, facilmente, que a ideia central dele é liquidar os “inimigos” (sendo que o conceito de inimigo deles é bem largo, abrangendo gays, lésbicas, ateus, comunistas, socialistas, atores, compositores, professores, cientistas, ou qualquer um que acredite que a terra não é plana). Neste show de horrores, no qual fazem num passe de mágica, fingindo não ser “ideológicos” e esgrimindo uma ideologia nazi-fascista o tempo inteiro, mas um ignorante diplomado e concursado surge: O advogado geral da União, André Mendonça. Como um Goebbels, sem talento, ele quer “caçar e cassar comunistas”, embora, comunista, para este governo, seja todo mundo que acredita que a terra não é plana.

O advogado-geral da União pede permissão para a polícia, de forma genérica e não com motivo investigatório, que entre nos campi das universidades para “combater a doutrinação”. Sabemos que este povo nem sabe o que é doutrinação. O que une uma série de cavalgaduras do campo do Direito, hoje, é uma terrível ignorância de qualquer assunto que não seja o Direito estritamente legalista. Moro, Dallagnol e outros já nos deram oportunidade de ver o quanto são ignorantes em tudo que não esteja relacionado ao mundo das leis. E também no mundo das leis. Na CF brasileira as polícias têm determinações bem delimitadas. A PM de fazer patrulhamento ostensivo e segurança; a civil, de investigar; a federal, de fronteiras e de atuar em crimes federais. Nenhuma delas tem como atribuição “fiscalizar doutrinação em universidade”, até porque, fiscalizar doutrinação é doutrinar. Tento imaginar um agente policial, seja da PM ou da PF combatendo a “doutrinação darwinista” numa aula de biologia, ou emitindo opiniões sobre doutrinação, numa aula de filosofia ou sociologia, sem nunca ter lido uma linha de Foucault, Hannah Arendt, Marx, Feuerbach, Engels, Celso Furtado, etc, etc, etc, etc.

O pedido é grotesco e, até neste STF tão dócil ao golpe, deve ser denegado. Acredito que o único voto que haveria a favor desta escrotidão seria o de Moro, se ele já o fosse ministro. É quase impensável aceitar que um juiz monocrático (a não ser um militante bolsonarista e, infelizmente, os há, muitos) aceitaria um pedido destes, para mim é inimaginável que o STF o faça, o que mostra certo desespero do nazi-fascismo bolsonarista e que, ao mexer com as universidades, ele esbarrou em seus próprios limites de disseminação na massa.
O texto, tão longo, ao final, é para condenar este ato nazi-fascista do advogado geral da União, caracterizando, ele, e à ideologia deste governo, no fundo, pelo que são, nazi-fascistas. Não nos estão perseguindo, matando na rua, ou nos marcando com uma estrela vermelha no braço, por que não conseguiram hegemonia para isto, embora dia 26 tenha sido uma tentativa desesperada e desarticulada para tal. Não devemos subestimar o nazi-fascismo, ou fingir que ele não existe no Brasil e não cresceu. Devemos denominá-lo pelo nome dele, denunciá-lo, combatê-lo e derrotá-lo.
Os fascistas não passarão!

Roberto Ponciano é mestre em Filosofia pela Gama Filho, Mestre em Letras Neolatinas pela UFRJ, Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pelo CESIT da Unicamp, e nunca estudou em Ravard.

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