O Brasil que o povo quer: Indústria Estratégica

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Por Washington Quaquá

O esforço magnífico da direção nacional do PT e da sua Fundação Perseu Abramo de envolver todo o Brasil na discussão de um projeto de nação é um marco na história do país. Mas esta não pode ser uma discussão restrita a pequenos grupos e nem muito menos a militância digital.

Precisamos envolver milhões na tarefa de discutir a nação que queremos construir. Mobilizar as classes populares nos seus locais de moradia e trabalho, chamar a intelectualidade nas universidades e centros de pesquisa; envolver os estudantes secundaristas, técnicos e universitários na discussão da escola pública e da universidade que queremos, linkada a um projeto de desenvolvimento tecnológico e científico nacional.

Na discussão dos setores estratégicos da economia, aqueles que são fundamentais para qualquer nação que deseje de fato se inserir soberanamente no mundo globalizado. E o Brasil tem a vocação para ser uma das grandes potências mundiais, liderando a América Latina e o Hemisfério Sul para um projeto economicamente desenvolvido, tecnologicamente avançado e mais justo socialmente. Precisamos definir estes setores estratégicos e discutir com os atores sociais envolvidos os seus contornos e conteúdos.

Estratégico, por exemplo, é o programa nuclear brasileiro. Nenhum país pode ser considerado na geopolítica mundial se não dominar a tecnologia nuclear. A NUCLEP e a Eletronuclear – estatais sediadas no Rio de Janeiro – tem um papel central no desenvolvimento desta tecnologia fundamental para a nação brasileira. O programa nuclear brasileiro que cresceu e se desenvolveu nos governos Lulistas está sendo em pouco tempo desmontado pela Lava Jato e pelo governo Temer.

Um herói nacional e um dos maiores cientistas do país em todos os tempos, cuja tecnologia por ele e sua equipe desenvolvida vale bilhões de dólares (se é que pode ser precificada), o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva está preso e condenado a 43 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, pouco tempo depois dos procuradores brasileiros terem ido fazer uma reunião com a vice diretora do departamento de justiça americano. E os americanos passaram anos tentando destruir o programa nuclear brasileiro. Uma colônia não pode deter energia nuclear! Agora estão conseguindo, com a prisão do Almirante Othon e a desnacionalização e desmonte do programa.

O PT, através do “Brasil que o povo quer”, deve organizar reuniões e debates com os pesquisadores brasileiros, com engenheiros, com os militares da marinha envolvidos no programa, com os operários da NUCLEP e da Eletronuclear para discutir a retomada e o avanço do estratégico programa nuclear brasileiro. Vamos tomar esta iniciativa aqui no Rio de Janeiro e articulá-la com a direção nacional/FPA.

O mesmo método deve ser utilizado com o programa aeroespacial. Devemos reunir com os trabalhadores e pesquisadores da base de Alcântara, no Maranhão. Procurar os militares da aeronáutica para discutir este programa estratégico para o país. A tecnologia aeroespacial e todos os conteúdos implicados no projeto, como componentes eletroeletrônicos, a pesquisa energética, a pesquisa de telecomunicações, a pesquisa de novos materiais, etc, são parte de uma cadeia de pesquisa e desenvolvimento essencial para os países que pretendem dominar a tecnologia aeroespacial. Este programa deve ter prioridade no próximo governo Lula e no “Brasil que o povo quer”.

As forças armadas em qualquer país que se pretende forte e moderno tem um papel estratégico no desenvolvimento nacional. São submetidas absolutamente ao poder civil e sequer se cogita interferências na vida política. É inadmissível, num país desenvolvido e democrático, que um general dê as declarações que deu o general Mourão. Isso é típico de uma republiqueta de bananas. Mas os militares tem sim que ter um papel não apenas na defesa estrito senso da nação, de seu povo e de suas riquezas contra interesses externos, mas um papel essencial como promotores do desenvolvimento tecnológico.

Reforçar os centros militares de pesquisa como o IME e o ITA e os programas tecnológicos ligadas as forças armadas, em parceria com outros centros de investigação tecnológica civis, são fundamentais para o desenvolvimento nacional. Só o orçamento de pesquisa e inovação anual da empresa privada coreana Samsung é de 13.4 bilhões de dólares ano. O Estado Brasileiro, que no governo Dilma criou a empresa brasileira de inovação, o que foi uma boa medida, mas sequer aplicou os 1 bilhão de reais previstos, foi contingenciado no “ajuste fiscal”. Investir em inovação científica e tecnológica é investir no futuro do país!

Programa aeroespacial, programa nuclear, criar um programa de biotecnologia para desenvolver fármacos, cosméticos e novos materiais com a biodiversidade dos biomas brasileiros, reconstruir uma estatal forte de mineração como foi a vale do Rio Doce para estatizar a extração de nióbio, ouro, diamantes e outras riquezas minerais para colocá-las a serviço da melhoria de vida do povo brasileiro, tudo isso se inscreve em um marco projeto de desenvolvimento nacional.

Discutindo com cada um destes setores, dos operários, técnicos especializados, pesquisadores e comunidade envolvida, o projeto “Brasil que o povo quer” deve encaminhar medidas práticas para tornar-se realidade.

Se há uma coisa que o golpismo trouxe de seus esgotos para transformar em adubo transformador foi o fim das ilusões republicanistas e da ilusão de que um processo lento, gradual e seguro de mudanças sociais e econômicas era possível com a elite burguesa vagabunda que nós temos. A crise aberta com o golpe abriu a possibilidade e a necessidade de reformas mais estruturantes que apontem para um novo projeto de nação: o Brasil que o povo quer!

Washington Quaquá é presidente estadual do PT RJ e foi prefeito de Maricá por 2 mandatos (8 anos)

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