Empresas fraudaram eleições com Whatsapp em favor de Bolsonaro, revela reportagem da Folha

Manifestantes foram atropelados em Niterói durante ato da #GreveGeral
14/06/2019
Nota da Presidência do PT sobre novas revelações do esquema no WhatsApp
18/06/2019

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, publicada na madrugada desta terça-feira, um grande número de empresas pequenas (açougues, lavadoras de carro e fábricas) contrataram disparos em massa de mensagens no Whatsapp em favor de Bolsonaro durante as eleições de 2018.

A Folha teve acesso a áudios de gravações do espanhol Luis Novoa, dono da Enviawhatsapp. Nos áudios, ele afirma que “empresas, açougues, lavadoras de carros e fábricas” brasileiros compraram seu software para mandar mensagens em massa a favor de Bolsonaro. Luis Novoa afirma também não ter conhecimento que sua empresa era contratada para fins políticos no Brasil.

As “empresas” citadas por Novoa contrataram, segundo levantamento da Folha, cerca de 40 mil licenças de software na agência espanhola. Cada linha pode disparar até 500 mensagens por hora — portanto, o pacote permitia até 20 mil disparos políticos por hora nas últimas eleições.

Além de obter o áudio, a Folha confirmou posteriormente detalhes da conversa.

Fraude e Doação Ilegal

Desde 2015, com decisão do Supremo, doações de empresas a campanhas eleitorais são proibidas no Brasil. Desse modo, uma organização como essa, de empresas se unindo e contratando disparos de whatsapp em favor de Bolsonaro durante as eleições, configura crime de doação ilegal e não declarada. Fraude das eleições.

Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), apenas as campanhas oficiais podem fazer contratação de impulsionamento de conteúdo eleitoral nas redes sociais. Além disso, está proibido o uso de ferramentas de automatização, como os softwares de disparo em massa.

O Planalto disse que não comentaria o caso e a reportagem da Folha também não mostra qualquer indício de que Bolsonaro e sua equipe sabiam da operação das empresas relatadas por Luis Novoa, da Enviawhatsapp.

Os áudios foram obtidos a partir de gravação de um encontro de empresários com Novoa ocorrida na Espanha.

Conversas na Íntegra

“Eles contratavam o software pelo nosso site, fazíamos a instalação e pronto […] Como eram empresas, achamos normal, temos muitas empresas [que fazem marketing comercial por WhatsApp]”, afirma o espanhol, na gravação.

“Mas aí começaram a cortar nossas linhas, fomos olhar e nos demos conta de que todas essas contratações, 80%, 90%, estavam fazendo campanha política”, completa o empresário espanhol.

Uma outra pessoa, nessa mesma gravação, pergunta a ele: “Era campanha para algum partido?” Novoa então responde: “Eram campanhas para Bolsonaro”.

Procurado pela reportagem, no entanto, Novoa negou todas as afirmações que ele mesmo faz nos áudios de gravações obtidos pela Folha. Disse que é mentira e que nunca trabalhou para campanhas políticas brasileiras, e que “tanto faz se gravaram sem permissão uma conversa informal”.

Investigação do TSE

Há oito meses, o TSE investiga denúncias de disparos de fake news em passa por mensageiros como Whatsapp contra o PT durante as eleições de 2018. Até hoje, ninguém foi ouvido. A denúncia foi feita em 2018 por uma reportagem também da Folha de S. Paulo, que mostrava que empresários bancaram o envio em massa de mensagens contra candidaturas do PT, em especial Fernando Haddad, durante a campanha.

Caso fique comprovada a prática e o suposto abuso de poder econômico nas eleições, a ação poderá resultar na cassação do mandato do presidente e de seu vice, Hamilton Mourão (PRTB). O processo é de relatoria do corregedor-geral eleitoral, ministro Jorge Mussi.

A área técnica responsável pela condução do processo informou, por meio da assessoria do TSE, que ainda não houve decisão quanto aos pedidos de depoimento de testemunhas.

A corte também não recebeu nenhum relatório da Polícia Federal sobre o tema. Também no ano passado, a PF abriu investigações sobre o suposto uso irregular de WhatsApp durante a campanha.

 

Os comentários estão encerrados.