Eleonora Menicucci: ”Golpe foi sexista”

Lava Jato: a destruição do Rio foi objetivo geopolítico
22/11/2017
Mitos e verdades sobre o endividamento da Petrobras
23/11/2017

Via 247

Presa pela ditadura militar, juntamente com a ex-presidente Dilma Rousseff, a socióloga brasileira e ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres Eleonora Menicucci, destaca “nunca imaginar que viveria outro golpe. Que outra vez estaria no centro do poder e ao lado dela. Sendo punidas as duas. Ela como eu, e eu como ela, lutamos pela democracia e pelas liberdades”.

Carine Wallauer/UOL

Carine Wallauer/UOL

Para a ex-ministra, o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff foi também “sexista”. “Com todo o respeito, se fosse o Lula ele não teria sido golpeado. O golpe é sexista, parlamentar, capitalista, internacional, midiático e judiciário. Dilma não tinha crime de responsabilidade. Eles não admitem serem governados por uma mulher. Do fato de ela ser ela. Uma mulher que subiu a rampa com a filha. E no segundo mandato, subiu sozinha. Ela não tinha marido, ela não tinha companheiro. A eleição da presidenta Dilma foi revolucionária, uma quebra de paradigmas. Ela chegou a ter 13 ministras. Hoje os ministérios são ocupados só por homem velho, rico, branco, barrigudo e latifundiário”, afirmou.

Eleonora, que no ano passado foi processada por calúnia pelo ator Alexandre Frota após uma entrevista onde a ex-ministra declarou lamentar que a primeira pessoa que o ministro da Educação, Mendonça Filho, quisesse ouvir era “um senhor que faz apologia ao estupro”. Dois nãos antes, Frota declarou em um programa de televisão que havia estuprado uma mãe de santo até ela ficar desacordada. Eleonora ganhou a causa em segunda instância em outubro deste ano.

“Vivemos tempos gravíssimos, de violência banalizada e radicalismo. Isso diz muito. Além do mais, esse processo contra mim foi um processo de ódio. Fui julgada e sentenciada não foi só pela minha declaração ao jornal, mas pelo conjunto da minha obra”, disse Eleonora em entrevista ao UOL. “Hoje, a vitória desse processo não é minha, é das mulheres”, completou.

A ex-ministra, que participou ativamente do processo de descriminalização do aborto na gestão Dilma Rousseff, diz que atual legislatura é “fundamentalista”. “Aborto era um tema absolutamente sem diálogo com o Congresso Nacional. E o que a presidenta Dilma não fez foi comprar deputados e senadores para passar as pautas dela. Essa legislatura que acaba em 2018 é a mais reacionária, a mais conservadora, a mais fundamentalista. Nela, aborto é intratável”, afirma.

Segundo ela, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que que proíbe o aborto até mesmo nos casos já previstos em lei mostram que “neste momento do país é possível. Todos os retrocessos inclusive”.

Carine Wallauer/UOL

Carine Wallauer/UOL

Para a socióloga, o fim da Secretaria de Políticas para as Mulheres pelo governo Michel Temer “significa que disseram que as mulheres têm que voltar para o tanque e pro fogão, de onde nunca deveriam ter saído. Temer já declarou no último dia 8 de Março, com mais de 500 mil mulheres nas ruas do país, que somente nós somos capazes de indicar ‘desajustes’ de preços no supermercado. Não tenho dúvidas: mulheres não são prioridade para esse governo. Prioridade para esse governo é comprar os deputados”, disparou.

Eleonora disse, ainda, que “o golpe não foi retirado ainda. Ele foi contra um projeto de inclusão social, de soberania nacional, de desenvolvimento. Um projeto onde as mulheres, a população negra e a população LGBT tivessem lugares de sujeitos políticos. Por isso todas as perdas de direitos. O golpe também foi para impedir a candidatura do Lula. Ou você acha que em 2018 vão deixar Lula tentar a eleição?! Estou preocupada. É uma caça desigual”, finalizou.

Os comentários estão encerrados.