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Por Emir Sader

Via 247

O Rio, mais que a cidade maravilhosa que é, é um patrimônio do pais. Degradar a imagem do Rio é jogar a auto estima dos brasileiros para baixo.

Emir SaderE hoje, como nunca antes, a imagem do Rio é a pior possível. O poder público no Rio se esfarelou. Não há governo, a Assembleia está acéfala, as finanças públicas não têm pago os salários dos funcionários. Os últimos governadores estão presos ou processados (se salva por enquanto um, refugiado no foro do governo golpista), as condições de segurança pública nunca foram tão precárias.

O 13º salário de 2016 não foi pago, as escolas públicas sobrevivem e a UERJ está totalmente fragilizada nas suas condições mínimas de funcionamento. A situação absurda do Maracanã é um símbolo da incapacidade de resolução de um problema central: ainda vigente o contrato com a Odebrecht, o uso do estádio é muito caro. O time com maior torcida do Brasil, o Flamengo, que sempre usou o Maracanã como seu estádio e o único a conseguir sistematicamente enche-lo com sua torcida, compra um estádio pequeno na Ilha do Governador, enquanto o Maracanã fica fechado grande parte do ano. A população pobre se sente ameaçada e desamparada frente ao domínio do tráfico, das milícias e da polícia, que a tem como refém, no meio dos tiroteios. Em tudo o Rio parece ter sido jogado na situação de abandono e de desesperança.

O Rio já viveu situações péssimas nos anos 1990. O predomínio do poder do dinheiro nos governos neoliberais concentrava todo seu interesse em São Paulo, no sistema bancário e na Fiesp, deixando a imagem do Rio como cidade decadente, de funcionários públicos, de violência e de corrupção. Não faltasse quem diagnosticava que tinha sido o governo “populista” do Brizola quem tinha produzido essa decadência, como era moda nos receituários neoliberais do Collor e do FHC. Quantidade de colunistas da mídia privada abandonava a cidade e iam se instalar em Sao Paulo, embevecidos não pelo que tem de melhor a capital paulista – os movimentos sociais, a vida cultural -, mas pela grana da burguesia paulista e deitava falação sobre a degradação irreversível do Rio, incapaz de se adaptar ao império do dinheiro.

Enquanto os centros culturais do Rio são majoritariamente públicos – com o do BB em primeiro lugar -, em São Paulo são bancos privados que ocupam lugar privilegiado nas atividades culturais. Enquanto o Rio tem as praias e os incontáveis espaços públicos como livres para o acesso de todos, São Paulo foi se reconstruindo como uma cidade de segregação e de exclusão para grande parte da população, amontoada nos bairros pobres e miseráveis, longínquos e de difícil acesso. Enquanto uma universidade pública do Rio –a UERJ – foi a primeira a inaugurar a poíitica de cotas, a USP resistiu até onde pôde a qualquer concessão nessa direção.

O Rio foi sempre a referência cultural fundamental para todos os brasileiros, com a música – o carnaval em primeiro lugar – e o futebol, com suas paisagens que representam o país no mundo, com sua população simpática e acolhedora, com os dias ensolarados que predominam em grande parte do ano. O Rio sofre com sua crise e o Brasil sofre com a crise do Rio.

O Rio renasceu daquela que parecia sua crise terminal durante os governos do PT. Antes de tudo, pelas politicas sociais que pela primeira vez, chegavam às favelas, às regiões mais desamparadas até ali. Com investimentos que recuperaram extraordinariamente a indústria naval, moribunda nos governos neoliberais. Com os investimentos fundamentais na Petrobras, que tornaram a empresa de energia mais vibrante do mundo, incluindo a descoberta do pre’-sal. O Rio voltou a crescer e passou a distribuir renda, com politicas de inclusão social. O carnaval de rua ganhou novo ímpeto, a Lapa voltou a ser a Lapa. Os cariocas voltaram a ter orgulho da sua cidade, sua autoestima nunca foi tão alta.

As Caravanas do Lula têm levado esperança a todo o Brasil. A população do nordeste recuperou a expectativa de parar de ter seus direitos avassalados e de voltar a viver os anos dourados dos governos iniciados pelo do seu conterrâneo mais ilustre. Se via nos olhos daquela gente o brilho de quem voltava a pensar que o nordeste poderia recuperar tudo o que estava perdendo, com a volta do Lula à presidência do Brasil. Minas Gerais viveu experiência similar, consagrando definitivamente as Caravanas não apenas como forma de retomada do contato da esquerda com o povo, mas de construção de um novo projeto de pais, de estratégia irreversível e imbatível de vitória para a reconstrução do Brasil.

A Caravana do Lula chega ao Rio no momento em que a cidade e o estado vivem o auge da sua crise. Não há poder público, não há lideranças políticas de pé, não há para onde olhar quem quiser manter a esperança no futuro. O presente é demasiado massacrante e desmoralizador para que a população possa pensar no amanhã. O Rio, que tinha sido o estado que mais investimentos e atenção tinha recebido dos governos do Lula, se tornou o estado mais massacrado pelo governo golpista. Qualquer que seja o diagnóstico sobre a baixa do preço do petróleo como causa da crise, nada justifica o desmonte da Petrobras – responsável, de forma direta ou indireta – por grande parte da economia do Rio – e da indústria naval. O rebaixamento do perfil do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do BNDES, entre outros, são resultados do Estado mínimo que se quer implantar, deixando o pais – e o Rio em particular – à mercê da ganância inesgotável dos bancos privados. A corrupção das elites dirigentes do Rio dilapidou grande quantidade de recursos que deveriam estar voltados para os investimentos públicos e as políticas sociais.

Lula chega ao Rio para visitar as obras que seu governo implementou, verificar as condições em que se encontram, reencontrar a população que sempre lhe dedicou carinhosamente seu apoio e que agora olhará de novo para ele como a esperança de sair da pior crise que o estado ja viveu. O Rio será outro depois da passagem da Caravana, porque poderá olhar para o futuro de novo com esperança, com expectativa de que ha uma saída para aquela que parece uma crise terminal a que queriam condena-lo.

Quando disser que vai usar parte significativa das divisas para fazer funcionar de novo a economia, Lula apontará para grande parte das obras paradas no Rio, da Petrobras à industria naval, que representam não apenas retomada do crescimento econômico, mas também a geração de empregos e a o reinicio do circulo virtuoso de distribuição de renda e expansão econômica.

Terminar a Caravana na Concha Acústica da UERJ tem um significado particular. Um dos eixos do discurso do Lula tem sido o resgate da educação pública e esse discurso ressoará na UERJ como um discurso de esperança e de recuperação do otimismo. Será o mais importante ato politico em muitos anos no Rio de Janeiro e deixará um rastro inesquecível de esperança para todos os cariocas e para todos os brasileiros, reiterando que “o Rio de Janeiro continua Lula”.

Emir Sader é sociólogo e cientista político 

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